terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A teatralidade no vídeo: o encontro de linguagens em “Marat- Sade” através do olhar de Peter Brook

Este texto foi elaborado baseando-se no livro “A análise dos espetáculos” de Patrice Pavis, com o intuito de pesquisar a interpretação teatral para o vídeo para nos auxiliar na elaboração de uma obra de caráter híbrido a partir do experimento cênico Dom Casmurro - Papéis Avulsos.

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        O “teatro vídeo” “Marat- Sade” se baseia no texto homônimo de Peter Weiss, que conta a história da encenação de uma peça - sobre o revolucionário Francês Jean Paul Marat - dentro de um manicômio, tendo como atores os próprios pacientes internados dirigidos pelo legendário Marquês de Sade. Os acontecimentos são inspirados em fatos históricos da biografia de Sade e sua passagem pelo manicômio.
         Peter Brook traça em “Marat-Sade” um discurso acabado com uma visão muita subjetiva da ação, deixando de lado o tradicional e inexpressivo registro de uma “peça filmada”. A atuação dos palcos é reelaborada pelos atores especialmente para as câmeras. No entanto, todos os procedimentos da filmagem estão a serviço da descoberta da teatralidade em cena, ou seja, a câmera assume claramente que está abordando um material já concebido com natureza teatral, advinda obviamente da experiência artística e estética daquele diretor inglês.
         Nesse contexto, Brook em “Marat- Sade” mescla a força e diversidade de estilo da interpretação dos atores com as possibilidades que a câmera oferece, explorando também a linguagem cinematográfica de forma eficiente e consciente. O resultado desse processo criativo é um encontro de linguagens com uma obra de caráter híbrido. A própria interpretação dos atores oscila entre a linguagem teatral e audiovisual, através de efeitos de autenticidade (autoconsciência) e teatralidade, ou seja, ora natural, ora declamatória ressaltando a convenção no teatro.
         O “aparte” para a câmera – o personagem do Marquês de Sade utiliza diversas vezes desse recurso - de maneira direta ou indireta envolvida num close é uma referência clara a estética de representação épica, uma vez que rompe com a ilusão realista e acentua a teatralidade. A forma épica não envolve o espectador numa ação cênica, mas lhe desperta a atividade. A câmera assume o papel da quarta parede no palco cênico italiano, sua ruptura traz um efeito de estranhamento no espectador. Afinal de contas, houve uma maneira diferente da forma tradicional na utilização da linguagem pelo vídeo. Essas intervenções direta para a câmera juntamente com a voz off, ao mesmo tempo que, garante as transições de cena, já que o plano seqüência é bastante utilizado, reforça mais ainda a impressão que o vídeo não se configura em um “teatro filmado”.
         É importante ressaltar também que o plano sequência em “Marat- Sade” possibilita que Peter Brook reinvente o espaço da cena o tempo todo. O espaço cênico se constrói através do lúdico com o preenchimento da atuação do ator, onde a câmera também intermédia nossa localização como espectador, ora vivendo no interior deste manicômio, ora em perspectiva, como se aquilo fosse algo distante de nós mesmos. Com tais características “Marat- Sade” é um “filme-teatro” de conotação política que usa da ironia e figuras marcantes do imaginário da revolução Francesa para questionar o sentido da transformação, como também para reforçar o ideal da contracultura nos anos 60 que contestou os parâmetros que se aplicavam no teatro e cinema.

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